O diabo da Tasmânia é a única espécie do género Sarcophilus mas provavelmente é melhor conhecido de todos os carnívoros marsupiais, sob a forma de Taz, o cartoon da Warner Brothers. A imagem cómica do furacão aterrorizante e que devora tudo no seu caminho reflecte a fama de necrófago odioso que têm na sua terra natal.
Actualmente apenas podem ser encontrados no estado selvagem na ilha da Tasmânia, ao sul da Austrália, mas existem fósseis que demonstram que existiram em todo o continente. Estudos apontam para a competição com os dingos, canídeos trazidos pelos aborígenes, como a causa da sua extinção no continente cerca de 600 anos antes da colonização por europeus da Austrália.
Podemos até desculpar os primeiros colonos ingleses da Tasmânia pela sua alarmante designação, pois a visão deste animal totalmente negro com enormes dentes e orelhas flamejantes (as orelhas dos diabos tornam-se mais vermelhas quando excitados) causando pânico na capoeira, combinada com os sons arrepiantes que produz na noite, deverá tê-los convencido que teriam acordado o demónio em pessoa.
No entanto, apesar de beligerantes para com os seus parceiros diabos, estes predadores e necrófagos especializados são inteligentes e cheios de carácter.
Vivem em locais florestados ou matas, atingindo cerca de 60 cm de comprimento corporal e 13 Kg de peso, o que os torna os maiores carnívoros marsupiais ainda vivos. A cauda grossa acrescenta mais cerca de 30 cm ao comprimento total.
Os machos são ligeiramente maiores que as fêmeas. A sua pelagem é negra, com manchas brancas variadas no peito, espáduas e lombo.
São animais nocturnos, passando o dia escondidos numa toca ou num tronco oco caído na floresta. Quando sai da toca desloca-se a grandes distâncias em busca de alimento, por vezes até 16 Km por noite, ao longo de percursos previamente definidos.
A sua aparência faz lembrar as hienas, não só no modo de vida mas até ao detalhe dos quartos traseiros descaídos e andar gingão. Estas espantosas semelhanças entre carnívoros placentários e marsupiais revelam uma evolução convergente, adaptando-os a nichos ecológicos parecidos.
Os diabos da Tasmânia, como as hienas, apresentam uma dentição especializada a alimentação carnívora, tal como adaptações ao consumo de ossos, nomeadamente dentes molares e pré-molares robustos, focinho curto com poderosos músculos das faces, que lhes confere uma dentada esmagadora. Os seus caninos são de corte oval, uma forma intermédia entre a forma estreita dos canídeos e arredondada dos felídeos.
Matam a sua presa aplicando uma potente mordida, que esmaga o crânio ou a nuca da vítima. São capazes de consumir todas as partes de uma carcaça, incluindo as peles mais rijas e quase todos os ossos, com excepção dos maiores.
Os membros são curtos, tornando-os mais lentos que os seus parentes placentários. As almofadas das patas, que se restringem às pontas dos dedos nos carnívoros placentários, estendem-se até ao calcanhar e pulso nos diabos, revelando que por vezes estes últimos, como muitos outros carnívoros marsupiais, se deslocam e repousam sobre os calcanhares.
Como já referido, os diabos produzem uma enorme gama de sons, incluindo rosnadelas, chiadelas, uma espécie de latido suave, resfolegos e farejadelas.
Os diabos são animais solitários mas altamente sociais, alimentando-se em conjunto (e ruidosamente) na mesma carcaça e estabelecendo relações carinhosas durante o período de acasalamento.
O comportamento sexual dos dois sexos é bastante diferente, no entanto.
A fêmea acasala e abandona vários machos, em sucessão, no período de cerca de uma semana, provavelmente em busca do melhor macho disponível para a sua descendência. Pelo contrário, numa tentativa de proteger essa mesma paternidade, o macho adopta a atitude de "macho das cavernas", perseguindo a fêmea e usando uma mordida no cachaço para a arrastar de volta à toca onde copulará com ela durante longos períodos de tempo.
Deve ser esse o motivo porque as fêmeas desenvolvem, na época do acasalamento, uma espécie de inchaço na zona do cachaço, que as deve proteger de ferimentos. Os machos, nos seus combates pelas fêmeas, são frequentemente feridos na cabeça e no lombo, podendo mesmo morrer.
Do acasalamento resultam numerosas crias mas no máximo 4 sobreviverão, carregadas no marsúpio durante cerca de 4-5 meses. A gestação dura 21 dias, altura em que o embrião se desloca até à bolsa da mãe, onde se agarra a uma das 4 tetas. As crias são desmamadas aos 9 meses de idade.
Os diabos não são animais territoriais, embora as fêmeas possam manter exclusividade de uma parte do território, principalmente quando com crias numa toca.
Os jovens machos tendem a dispersar mais que as fêmeas, afastando-se cerca de 10-30 Km do local onde nasceram após atingirem a maturidade (12-18 meses de idade). Deste dispersar resulta uma taxa de mortalidade muito elevada (até 60% dos jovens morrem durante o primeiro ano após se afastarem da mãe) devida à competição pelo alimento.
O cheiro é muito importante para comunicação entre os vários animais, sendo frequente ver os diabos arrastando o traseiro pelo chão para deixar a sua marca odorífera. Quando sob stress produzem um odor intenso e desagradável mas quando calmos não são